domingo, 25 de julho de 2010

Ex-aluno de faculdade top dará aula em escola carente

Importante lembrar que isso e uma ação paleativa, e que não atenderá a todos. Mas a iniciativa e boa. Tem seu valor e sua função dentro do cenário educacional mundial. Espero que no Brasil funcione de verdade.
Fonte: Folha de São Paulo - 25/07/2010 - JANAINA LAGE, ANTÔNIO GOIS DO RIO
Jovens recém-formados em cursos universitários disputados serão convidados a dar aulas por dois anos em escolas públicas de baixo desempenho, em comunidades carentes do Rio de Janeiro. Esta será a primeira etapa do programa Ensina!, que será lançado amanhã. Trata-se de uma versão brasileira do "Teach for America", programa criado na década de 1990 nos EUA que recruta jovens de elite para ensinar em comunidades pobres.
O programa está presente hoje em 13 países, por meio do braço internacional "Teach for All".
No Brasil, o projeto piloto começará no Rio, com 40 recém-formados que darão aulas a partir de 2011 de português, matemática, ciências e inglês. A ideia é expandir o programa depois para outras cidades, como São Paulo.
Ao contrário do que ocorre nos EUA, onde recém-formados substituem professores, no Brasil eles darão aulas de reforço em escolas que já trabalham em regime integral. Cada participante terá um "professor-padrinho" para trocar experiências.
O salário para uma carga de 40 horas semanais ficará entre R$ 2.300 e R$ 2.500.
Antes de entrar em sala de aula, cada jovem passará por um processo de treinamento intensivo durante cinco semanas. A prática continua durante todo o período de trabalho.
Nos países em que foi implementado, uma das características do programa é o rigor no processo de seleção, que inclui análise de currículo, dinâmica de grupo e entrevistas. Nos EUA, por exemplo, o programa recebeu no ano passado 35 mil inscrições para 4.100 vagas.
MERCADO DE TRABALHO
O programa está em contato com grandes empresas, como Oi, Natura, PDG, Instituto Unibanco, Intel, Itaú e Odebrecht, para que elas reconheçam o trabalho como um diferencial no currículo.
"Estes jovens aprenderão a ter manejo de uma sala de aula, a planejar atividades e a superar obstáculos, lidando com a diversidade e exercendo um papel de liderança. Terão ainda que trabalhar em equipe para atingir metas, habilidades valorizadas no mercado de trabalho", explica Maíra Pimentel, diretora-executiva do Ensina!.
A secretária municipal de Educação do Rio, Claudia Costin, diz que a experiência da rede com o trabalho de voluntários mostra que eles são bem recebidos pelos professores.
"As escolas que optaram por trabalhar com voluntários relatam que a troca de experiências foi boa para todos. Acreditamos que o mesmo acontecerá com os jovens que chegarão pelo Ensina!". O custo do programa na primeira fase é R$ 3,7 milhões, sendo que a maior parte vem da iniciativa privada.
Depois de projeto, participantes continuam na área da educação
Nos EUA e demais países onde foi implementado, um dos resultados do "Teach for America" e de suas versões locais foi ter levado jovens talentosos para a sala de aula.
Muitos deles acabaram se tornando professores ou continuaram trabalhando com educação em suas carreiras.
O programa, no entanto, também gerou críticas de sindicatos, especialmente quando jovens recrutados pelo programa assumiam o papel de professores.
Tomas Recart, coordenador do programa no Chile, conta também que, inicialmente, houve ceticismo.
"Há desesperança, até por conta de programas que já foram tentados e não deram resultados. Mas todo professor quer ver seu aluno aprendendo. Quando percebe que pode trocar experiências e melhorar práticas em sala de aula, o olhar muda", diz.
Segundo Recart, uma característica importante dessas iniciativas é não passar a ideia de que esses jovens chegarão às escolas para ensinar aos professores ou mostrar que são melhores.
"E os profissionais que já estão hoje em sala de aula também se beneficiam da troca com gente que chega com novas ideias", diz ele.
O programa chileno tem apenas dois anos. Uma avaliação feita pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) ainda não identificou melhoria nas notas, mas foi possível perceber mudança de mentalidade. O BID fará também a avaliação do programa no Brasil.
"Os alunos que se achavam limitados passaram a acreditar mais em seu potencial. Acreditamos que, na segunda rodada de avaliação, já perceberemos efeitos no aprendizado. Um indicativo de que isso deve acontecer é que os diretores me pediram mais jovens do programa para suas escolas", diz Recart.
ORIGEM
Nos Estados Unidos, berço da iniciativa, o "Teach for America" já recrutou 28 mil jovens desde 1990.
O programa surgiu a partir do trabalho de conclusão de curso de Wendy Kopp.
Aos 21 anos, ela conseguiu arrecadar US$ 2,5 milhões para iniciar o projeto, que se expandiu rapidamente. O "Teach for All", braço internacional, surgiu após a demanda de vários países em implementar o programa.