segunda-feira, 25 de julho de 2011

Bônus na berlinda

Não sei quem assina os editoriais da Folha de São Paulo, mas quem escreve talvez não leia os editoriais todos os dias, haja vista que há alguns dias o próprio jornal elogiou e muito as políticas públicas de educação do Estado de São Paulo, inclusive o próprio bônus que este jornal sempre defendeu e por várias vezes disse que os professores e sindicatos eram contrários as inovações. Como se a qualidade na educação dependesse única e exclusivamente do bônus ou salário. Educação de qualidade se faz com boa infraestrutura, com material didático de qualidade, de condições humanas, dignas dentro do espaço escolar e acima de tudo com respeito para com os profissionais da educação. Pq boa vontade, dedicação, carinho, cuidado, atenção e vontade de melhorar a escola pública é o que não falta nos educadores de São Paulo e de todo o Brasil. A todos vcs o meu respeito.
Fonte: Folha de São Paulo - 25/07/2011
Apesar de renhida resistência, sobretudo dos sindicatos de professores, um número cada vez maior de Estados e municípios brasileiros tem adotado em anos recentes políticas de premiação por mérito a docentes, nas redes estatais de ensino.
A lógica de recompensa dos programas é louvável. Busca-se compensar e estimular financeiramente o esforço dos mestres, avaliados pelo desempenho acadêmico de seus alunos. O objetivo é melhorar o rendimento dos professores em sala de aula e, em última análise, elevar a qualidade deficiente do ensino público.
Expectativas tão ambiciosas sofreram um golpe, na semana passada, com a notícia de que a cidade de Nova York, cuja política de bônus inspirou governos no Brasil, suspenderá o pagamento desses prêmios em suas escolas.
A decisão se seguiu à conclusão de um estudo, iniciado há quatro anos, que não constatou diferenças significativas no desempenho de estudantes. Notas dos alunos cujos professores recebiam remuneração por mérito eram similares às de colegas sob a responsabilidade de docentes não beneficiados pelo programa.
É preciso cautela ao analisar o resultado da pesquisa nova-iorquina, que não deve ser avaliada de forma isolada. Estudos semelhantes, em países como Índia, Reino Unido e Chile, apresentaram diagnósticos opostos, que confirmariam a eficácia da remuneração por mérito.
O que o conjunto de tais pesquisas parece indicar, em sua aparente disparidade, é que o simples estímulo financeiro aos docentes não é uma panaceia para os males da educação. Outros fatores, externos à sala de aula, são decisivos para o desempenho dos alunos.
O mais relevante deles é a vinculação entre a condição socioeconômica da família do estudante e seu desempenho cognitivo. Mas há maneiras de mitigar a desvantagem inicial de parcela das crianças mais pobres no seu percurso acadêmico. A principal providência é o início antecipado da vida escolar, com a oferta de creches e pré-escola de boa qualidade.
Os impactos específicos da remuneração por mérito deveriam ser avaliados levando em conta essas condições. O Brasil ainda não dispõe de pesquisas capazes de medir com precisão os efeitos de uma política tão recente.
O governo paulista, pioneiro na adoção do bônus salarial, promete agora elaborar novas regras para aprimorar seu funcionamento.
Pelo menos num aspecto deveria seguir de forma imediata o exemplo nova-iorquino: contratar estudos independentes capazes de examinar com isenção o programa promissor, que não deve ainda ser descartado, mas que pode ser avaliado e aperfeiçoado.

Tese da USP aponta para possibilidade de comportamento antiético na publicação de artigos científicos brasileiros

Fonte: 25/07/2011 - 17h56 Gilberto Costa Da Agência Brasil Em Brasília
Tese de doutorado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) alerta para a possibilidade de problemas de conduta ética na publicação de artigos científicos de pesquisadores brasileiros, tais como coautorias forjadas e citações de fontes não consultadas na bibliografia dos trabalhos acadêmicos.
O autor da tese, Jesusmar Ximenes Andrade, cita entre os problemas mais comuns a citação de mais livros e artigos na bibliografia além dos realmente usados, o que aumenta a credibilidade do estudo, e a coautoria, que aparece como favor trocado. Nesse último caso, os falsos parceiros assinam dois artigos em vez de um e, assim, aumentam sua produtividade, quesito que é avaliado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), no processo de classificação dos programas de pós-graduação. Ligada ao Ministério da Educação, a Capes é uma das agências de fomento à pesquisa científica e acadêmica do governo federal.
A suspeita de ocorrências de conduta antiética na produção de artigos científicos veio a partir da aplicação de 85 questionários, respondidos por participantes do Congresso USP de Controladoria e Contabilidade, realizado em 2009, em São Paulo. Segundo a pesquisa, a maioria das pessoas afirmou não conhecer nenhum caso de má conduta, mas elas acreditam que tais práticas seja comuns.
Andrade estranhou o resultado. “As pessoas conhecem pouco, mas acreditam que ocorrem [problemas antiéticos] mais do que acontecem? Eu presumi que quem estava respondendo sobre as suas crenças também estava respondendo sobre os seus próprios hábitos”, disse o autor da tese, que é professor adjunto da Universidade Federal do Piauí (UFPI). A tese foi defendida em abril, no Departamento de Contabilidade da FEA/USP.
Andrade destaca o fato de os resultados de sua pesquisa dizerem respeito à “má conduta na pesquisa das ciências contábeis”, mas avalia que “não encontraríamos resultados muito diferentes se fôssemos para um censo”, incluindo todos os campos científicos.
Para ele, o Brasil mantém o foco na quantidade, critério que fez o país ocupar o décimo terceiro lugar na produção científica internacional, e não se preocupa com a qualidade. “Por que o Brasil não tem um [Prêmio] Nobel?”, pergunta ao afirmar que “a quantidade que nós estamos buscando é infinitamente desproporcional à qualidade dos estudos que estamos produzindo”.
A busca por quantidade é almejada por todos os pesquisadores, de acordo com Andrade. “Seja para conseguir recursos ou para obter status dentro da academia.” Em sua opinião, “para buscar essa quantidade, esse volume, termina-se utilizando certos artifícios que, segundo foi observado, não são condutas livres de suspeita. São condutas impregnadas de comportamentos antiéticos”.
O autor da tese diz que a Capes dispõe de “métricas” de avaliação mais voltadas à qualidade do trabalho do pesquisador do que à quantidade de artigos gerados. “O sistema de avaliação chamado Qualis pontua os artigos conforme a revista científica de publicação”, lembrou.
A Agência Brasil procurou pela Capes desde a última sexta-feira (22), mas foi informada hoje (25), por e-mail, que o diretor de Avaliação, Livio Amaral, “precisa de uns dias para ler a tese”.
O professor de metodologia do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Marcelo Medeiros, não concorda com o conceito de que a busca por quantidade seja prejudicial. Segundo ele, a pressão da Capes por aumento da produtividade “é mínima”. Em sua opinião, “opor quantidade à qualidade não é correto”. “Nas ciências em geral, os melhores pesquisadores são também professores que têm bom nível de publicações. Publica muito quem pesquisa muito."